Moda com cheiro a Lisboa

04-03-2011 16:31

Moda com cheiro a Lisboa

A marca MyLisbon Fashion une três mulheres de idades diferentes que em comum têm o gosto pela roupa e a paixão pela cultura da capital portuguesa

 

É em tempos de crise que se criam as melhores ideias", afirma a empreendedora Cristina Fernandes de Abreu. "Se há falta de motivação, é preciso ter engenho para criar algo inovador e ter sucesso." Cristina, 45 anos, fala por experiência. Criou e desenvolveu recentemente a marca MyLisbon Fashion, que se baseia num conceito simples e inovador: aplicar a cultura da capital portuguesa na moda.

A ideia surgiu quando passeava pela Baixa lisboeta. Naquele dia em particular, as inúmeras lojas de turismo chamaram a sua atenção. "Só via aquelas t-shirts que ninguém usa, que os turistas levam para casa e vestem como pijama. Fiquei com a sensação de que não têm acesso a uma peça de design com cultura", diz Cristina. Então, porque não desenvolver um projeto de moda que divulgue a nossa cultura?

MyLisbon Fashion é um conceito baseado numa trilogia - moda, cultura, turismo - que une a criatividade de três mulheres: Cristina, Luísa e Raquel. Luísa Martins, 67 anos, deixou-se contagiar pelo entusiasmo da empresária Cristina e aliou-se ao projeto imediatamente. Luísa é a coordenadora de moda e faz o ensaio das 42 peças da coleção depois de Raquel as desenhar.

Lisboa como inspiração


 

Raquel Costa, designer de 17 anos, assume o papel de estilista. Desenha os esboços. A ambiciosa estudante do 12º ano vê inspiração em cada recanto da capital: as varandas de ferro, os azulejos, a calçada... "É incrível." O elogio é de Luísa: "Um dia será uma grande criadora", remata.

De Alfama à Mouraria, de Alcântara a Santos, a inspiração de Lisboa é infindável, quer para os fadistas, quer para Raquel, e ela transmite-a nos seus esboços: um vestido de cocktail com a guitarra portuguesa ao peito, um casaco comprido que evoca a calçada de Lisboa, uma t-shirt com o arco da Rua Augusta.

A loja do Centro Cultural de Belém foi a primeira a mostrar estas peças. Apresenta uma montra dedicada à marca, com a descrição do monumento junto à peça que lhe está associada. "Temos recebido feedback positivo. As pessoas interessam-se pelo conceito, porque não conheciam nada como a MyLisbon", afirma Cristina. Por outro lado, as empreendedoras não escondem o entusiasmo com a recente parceria com o Museu do Azulejo. A instituição deu-lhes autorização para utilizarem os azulejos expostos no processo criativo de criação das peças e venderá a marca na loja turística do museu em breve. Além disso, a marca tem já um showroom no Chiado - zona a que chamam "o centro da alma de Lisboa" - que presta atendimento personalizado de acordo com marcação prévia.

Parcerias para crescer


 

As empresárias querem mais e estão a fazer contactos com lojas multimarca e organizações institucionais, como museus, hotéis e aeroportos, para expor o seu trabalho. A questão do espaço assume especial importância: "Procuramos um local onde a MyLisbon tenha destaque, onde seja acessível à mulher portuguesa, mas também às turistas", esclarece Cristina, frisando que a exclusividade e a qualidade das peças são parte integrante do conceito.

Quanto à internacionalização desta ideia, as empreendedoras já receberam contactos vindos do Japão, cujo gosto pela vertente fadista da capital portuguesa é bem conhecida. "Os japoneses sentem proximidade em relação à nossa cultura", explica Cristina. "Adoraram os pormenores da coleção e identificaram-se com as cores, os tecidos e o nosso design."

Não são todas as mulheres que se podem dar ao luxo de andar com Lisboa vestida. Uma t-shirt chega aos 70 euros e um vestido ou um casaco aos mil euros. Muitas das peças primam pela discrição e evidenciam Lisboa apenas nos pormenores: "Qualquer pessoa pode andar na rua com MyLisbon, porque não choca. Para usar a marca, os portugueses têm de gostar não só de moda mas do país e de utilizar algo feito no país onde vivem", desafia Cristina.

Publicado na Revista Única de 5 de Fevereiro de 2011